segunda-feira, 5 de setembro de 2016

A BARBÁRIE POLÍTICA

Atribui-se ao antropólogo francês Claude Lévi-Strauss, a frase “O Brasil é o único lugar que passou da barbárie à decadência sem conhecer a civilização”... Pois bem, o que isso tem a ver com o que eu quero dizer? Não tem nada a ver, ou por outra, vamos ver, vamos ver...

Estamos respirando um julgamento histórico (vcs sabem do que estou falando), somos testemunhas oculares da história. Muitos estão escrevendo sobre isso, todos estão escrevendo, a favor ou contra, mas isso não importa, ou talvez importe, veremos...

Mas o que importa mesmo e o que me preocupa é justamente essa  polarização Direita x Esquerda,  apaixonada e  futebolesca, que se criou a reboque da guerra de torcidas entre contrários e favoráveis à quase Ex-Presidenta.  Vejam bem, não foi uma guerra de ideologias, foi uma guerra de antipatias e simpatias, de paixões e ódios, entre Prós-Dilma e Anti-Dilma (ou Petistas e Anti-Petistas, que dá no mesmo).

E o grave está aí e explico! Vemos nascer uma polarização, quiçá um bipartidarismo (de alianças ou sem) de um episódio não partidário, não político, não ideológico, mas simplesmente de identificação e ódio a uma figura humana ou à algumas figuras ou um grupo (lula, dilma, PT, etc). Pois bem, e nas próximas eleições teremos eleitores se intitulando “De Direita” e “De Esquerda” sem nunca terem sido conservadores/liberais ou sócio-democratas ou marxistas. Mas de uma Direita e de uma Esquerda Futebol Clube ao estilo dos Democratas e Republicanos dos States, onde um escolhe seu partido porque seu avô escolheu, seu pai seguiu e ensinou os filhos a torcerem...

Porém, lá o bipartidarismo se instalou após a consolidação de um judiciário imparcial, de um legislativo honesto, de um executivo nacionalista, de uma mídia investigativa e sociedade atuante, enfim, de instituições sólidas que vigiam, corrigem e punem esses partidos, de forma a garantir que eles trabalhem sempre pelo bem comum da nação. Estando isso garantido, as torcidas e candidatos podem se degladiarem a vontade. Enfim, lá o bipartidarismo veio depois da Civilização Política, e da Civilização Eleitoral (e talvez esteja conhecendo a Decadência com esse Donald Trump, mas isso é outra história...)

Porém aqui no Brasil, estamos em pleno analfabetismo político, em plena Barbárie Política e Eleitoral, e corremos o risco de entrarmos na Decadência Política, sem passarmos pela evolução, pela Civilização Política, caso se cristalize essa forma de Direita x Esquerda de Botequim, de Fla-Flu, que surgiu e contaminou a população como uma epidemia...

E a partir daí, não importará se um candidato é ladrão ou não, não importará se é incompetente ou não, ou se seu partido é uma máfia ou não,  mas apenas se ele é vermelho ou azul,  se é de Esquerda ou Direita, se meu bisavó esteve naqueles protestos, naqueles tempos, contra ou favorável ao  impeachment.

A DÚVIDA DA FÉ

esde os primórdios até hoje em dia, a verdade é uma só: esperamos ver e desejamos uma encarnação do sobrenatural na Terra, antes da nossa morte... E assim construímos os primeiros totens, adoramos as primeiras estátuas, os primeiros templos. E tal era a nossa fé, que chegamos a render-lhes sacrifícios, inclusive de humanos, crianças até, como maneira de provação e de provar para nós mesmos a força da nossa crença, exibindo-a como mais forte que a vida, ao matar e morrer em nome dela...

E assim foi durante toda a história, e nós dias de hoje com Estado Islâmico etc, etc e etc.

Mas por que essas pessoas não tem paciência de esperar o seu próprio dia D por meio da morte natural? Algumas vezes quando a existência e a vida se tornam insuportáveis... Outras vezes, quando ansiosos, queremos ver a encarnação, a materialização, a força, a prova da existência do sobrenatural, do metafísico, da vida pós morte, de maneira urgente. Queremos antecipá-la para esta vida, como garantia e prova de que existirá outra vida... 

Desesperados, muitos se agarram na primeira e na mais fantasiosa forma material do sobrenatural que aparecer-lhes na frente, e se fanatizam e passam a segui-la. Vejam os seguidores de Inri Cristo, do ET Bilu, do Paulo Coelho, Lady Gaga, etc, etc e etc.

No fundo, no fundo os fanáticos são os que mais duvidam, são os mais inseguros da própria fé, e por isso precisam prová-la o tempo todo, seja através de rituais incessantes, de disciplinas permanentes, de sectarismos herméticos, de adorações constantes  e outros fanatismos.

E as formas e variantes desses fanatismos são ecléticas e ilimitadas. Estão presentes não só nas religiões, mas do futebol, passando pela idolatria de astros da mídia, semi-deuses encarnados,  até o auto-culto narcisista, por meios dos inúmeros vícios... 

Formas e variantes muito bem descritas no poema abaixo, por meio das quais os exploradores da fé se aproveitam da boa-fé dos explorados: 


Gente Humana
Falcão
  

Seja ou não por influência da Era de Aquários,
As pessoas tornam-se mais transcendentais
E enveredam por caminhos extraordinários,
Tentando não se machucar na virada do milênio

Pois os astros que regem os sabidos
Também regem os otários
E quem é esperto, lucra tanto na matéria
Quanto no imaginário
Pois o futuro atualmente está muito mudado
E qualquer um pode prever inclusive o passado

Numerologia, astrologia, ufologia, orixás
Viagem astral, meditação transcendental
Reencarnação, casa solar, encruzilhada
Regressão, macumba, igreja universal

Adivinhação, Mônica Bonfiglio, sal frutas
Pife-pafe, irmã Jurema, Edir Macedo
Chá de cogumelo, neoliberalismo
Walter Mercado, Leiloca, Lair Ribeiro

A INDÚSTRIA DO ESQUECIMENTO

Vou direto ao ponto, Indústria do Esquecimento é a mesma coisa que a Indústria do Entreterimento e já já explico... A mídia trabalha o tempo todo para que esqueçamos dos nossos e de nós mesmos (não intencionalmente, quero crer...) 

Alguém pode se julgar com memória afetiva nesse país, eu pergunto...  Absolutamente não! - Eu mesmo respondo. 

Minto, minto. Dona Sebastiana que tem sua a vida inteira encravada no sertão profundo do Piauí... Ela se lembra diariamente do filho que foi para Brasília, se lembra dos seus finados, os vizinhos, da sua infância, de si mesmo, em suma, do essencial, o resto é besteira, é entreterimento, é distração...

E é aí que eu queria chegar... Somos uma multidão de entretidos, distraídos, ou seja, alienados da lembrança afetiva... A enxurrada de informação, entreterimentos e outros besteróis atrofiou nossa memória, amputou parte de nosso sentimento. Somos uns aleijados do sentimento... Não lembramos aqueles que fizeram  parte de nossas vidas, e como recordar é viver, não recordamos, não vivemos essas pessoas que um dia foram importantes na nossa construção existencial, e por isso, fazem parte nós...

E acrescento, em tempo, não esquecemos só nossos mortos, esquecemos a maioria dos nossos vivos... Seja pela distância, que os coloca nos porões da nossa memória, de onde os retiramos somente nas datas de aniversário e no natal, através de um telefonema ou uma visita de uma vez por ano...

Mas há pior, há pior. Com o incremento e aumento da extensão e tempo das distrações eletrônicas, estamos habituando-nos a esquecer até de quem está próximo. No trabalho, esquecemos dos colegas ao lado, concentrados no nosso celular, na internet e no próprio trabalho...  Em casa, tem aqueles que se trancam literalmente no quarto: filhos esquecem os pais, irmãos esquecem irmãos e vice-versa. Mas nem precisava a clausura física, tão trancados estão em realidades virtuais, paraísos artificiais, vícios solitários, e outras  drogas eletrônicas... 

Às vezes, muito ocasionalmente, humanos que são, quando param pra respirar, sentem um vazio existencial, um vazio emocional, vazio afetivo... E o que fazem para prenchê-lo, buscam um irmão, um pai, uma mão, um amigo para abraçar e desabafar? Não, não. Buscam o desabafo virtual e tentam afogar e esquecer o sofrimento nas próprias redes eletrônicas, onde estão presos e se debatem como peixes naquela rede...

Mas não é isso que eu queria dizer, ou por outra, é mais ou menos. O que eu queria dizer é que esquecendo quem fez parte de nossa vida, quem faz parte dela, quem está realmente próximo de nós, estamos esquecidos do essencial e de nós mesmos! E chegará um ponto, que esse esquecimento diário e cumulativo se transformará em uma amnésia integral de nós mesmos... Se é que já não c(h)egou...

A MENINA SEM CHINELOS

Começo lembrando que não há ser mais pungente e, repito, não há ser mais plangente do que o brasileiro premiado. O inglês, não, nem o francês, muito menos o americano. Um ou outro recebe qualquer prêmio com modéstia e tédio. Alguns até o recusam até o prêmio Nobel... 

E que faria o brasileiro? Sim, qualquer um dos 200 milhões de brasileiros que, de repente, recebesse um telegrama assim: — "Papaste o prêmio nobel, seu largo!!" - imediatamente pularia no mar, de galochas e tudo, atravessaria a nado o atlântico, o canal da mancha, o mar Báltico até chegar a Estocolmo, ofegante de olhos arregalados e lábio trêmulo, pra pegar seu prêmio... E depois seria carregado nos braços pelos outros 199.999.999 de brasileiros, cada um proclamando:
- É meu amigo íntimo, é meu amigo íntimo!!! Foi criado comigo... Mamamos juntos na mesma ama de leite... (Tal é o grau de identificação com um patrício campeão mundial)... Mas que mistério é esse por trás de nosso comportamento? Daqui a pouco revelo...

Todo brasileiro ficou sabendo da história da judoca que não tinha chinelos na infância. Todo brasileiro se identificou e por isso se emocionou com ela...

Confesso que não entendo por que. O Brasil não tem nenhum mérito pelo sucesso da campeã. Ao contrário, ao contrário e já já explico por que... 

Os Estados Unidos tem uma indústria de produção em massa de medalhistas. Pegam milhões de moleques ainda bebês, jogam dentro da máquina, e saem centenas de medalhistas em menos de uma década. Se nascer alguém naquele país com algum potencial pra algum esporte, eles o descobrem, o capturam e o levam para treinar. Mesmo contra a vontade do guri:

" - Eu não quero ser campeão!!!" - Esperneia o meninote.
" - Vai sim! Como não, como não, ora bolas?!" - Grita o Tio Sam, arrastando-o pelas orelhas.

Então os americanos podem ter orgulho de seus medalhistas, porque, nesse caso, o mérito é de uma instituição americana sustentada financeiramente pelos americanos.

No Brasil, dá-se o contrário, o mérito é totalmente individual, e nossos campeões para chegar a sê-lo, ao invés de ajuda, tem de lutar contra o Brasil e contra os brasileiros.

Vejamos o exemplo dessa menina. O Brasil, enquanto conjunto instituições e pessoas, jogou-lhe na favela ao nascer, descalça e mal alimentada. A moleca já nasceu levando um ipon, e teve de erguer-se sozinha dando botinadas a torto e a direito. Sabe-se lá como chegou lá...

Quanto a essa nossa misteriosa identificação com o nosso campeão antípoda,  me parece bem transparente. Cada um de nós carrega um potencial de santas humilhações hereditárias. Cada geração transmite à seguinte todas as suas frustrações e misérias. No fim de certo tempo, o brasileiro tornou-se um Narciso às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: — não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a auto-estima. Se não me entenderam, paciência. E tudo nos assombra. 

Se uma vaca brasileira de um brasileiro pobre for campeã mundial de leite, nós nos identificaremos com ela no ato! Lembrarão inclusive que temos o hábito de mastigar um capinzinho no canto da boca, quando achamos um... E um simples “bom-dia” de um estranho já nos gratifica. Se for gringo, então... Nunca me esqueço do meu trabalho. 

No serviço público todo mundo tem antipatia, ressentimentos de chefias, principalmente do chefe maior... Quanto mais poderoso, mais inacessível, mais distante, mais antipatia nutrimos...  Mas se um dia o presidente, um escroque perfumadíssimo, mais cheiroso do que puta nova em puteiro, passa pelo  funcionário que mais o odeia e lhe aperta a mão e sorri, o servidor será-lhe eternamente grato e passará a defendê-lo em todas as discussões...  

Mas voltando à vaca fria, aquela premiada... Ah, como o brasileiro precisa ter um gênio à mão! Sim, para apalpá-lo, farejá-lo. A simples existência de um gênio patrício já nos permite um mínimo de auto-estima. Mas não pode ser qualquer um. Tem de ter sofrido na vida... Tem de ter sido humilhado e pobre, como um garrincha, aleijado e acoolatra, para termos a identificação integral na nossa memória atávica humilhadíssima... 

Se for um Robert Scheidt, que já nasceu rico e  campeão não serve. Se for jogadores de volei, vindos da classe média, que já ganharam caminhões de medalhas e nos dão o título de País do Volei, não serve... 

Recentemente, fomos bicampeões mundiais de clube nesse esporte. Alguém viu entrevistas com esses heróis no Jornal Nacional? Alguém viu eles na Fátima Bernardes? Não. E por que? Por que eles tinham tenis pra calçar na infância, e puderam frequentaram colégios, onde por acaso tinham quadras de volei... 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

SAI EMPREITEIROS, VOLTAM BANQUEIROS

A nomeação de Henrique Meireles (dono do Banco Original, recém fundado) para a Fazenda e do Economista-Chefe do Itaú para o Banco Central sinaliza que vai voltar o Esquema de financiamento de campanhas via banqueiros, utilizado na era FHC. Quem duvida basta lembrar que a maioria dos escândalos daquele governo foram ligados aos Banqueiros, a começar pelo Proer, que distribuiu cerca de U$30 bilhões de dólares pra 7 bancos, já que muitos banqueiros como do Econômico e do Nacional , haviam desviado dinheiro dos correntistas para paraísos fiscais e alegavam quebra devido ao Plano Real.  Na época, sete instituições tiveram acesso às linhas de financiamento do programa: Banco Nacional, Banco Econômico, Bamerindus, Mercantil, Banorte, Pontual e Crefisul. Foi instalada a CPI do Proer mas o governo foi inocentado.

Depois viria o esquema das privatizações, em que banqueiros como Daniel Dantas  eram avisados com antecedência e compravam ações das estatais, via banco Icatu, por ex. Também o dinheiro para as compras bilionárias era emprestado pelo BNDES e fundos de Pensões como Previ, e as dívidas saldadas rapidamente com os lucros dos exercícios vindouros de empresas como Vale do Rio Doce.

A Polícia Federal prendeu de forma temporária, no dia 8 de julho de 2008, o banqueiro Daniel Dantas e o empresário Naji Nahas na operação denominada Satiagraha  que começou a investigar desdobramentos do caso mensalão, mas que se estendeu a fatos anteriores ao governo Lula, iniciando-se na época da privatização do sistema Telebrás. O resultado prático dessa operação foi o afastamento, determinado pela cúpula da Polícia Federal, dos três delegados incumbidos das investigações e a instauração de inquérito administrativo contra o juiz Fausto de Sanctis por ordem do Presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Em novembro de 2010, o delegado Protógenes Queiroz, por sua atuação na Satiagraha, foi condenado a três anos e quatro meses de prisão pelos crimes de violação de sigilo funcional e fraude processual. O Ministério Público entendeu também que ele deve responder pelos crimes de prevaricação e corrupção passiva. Hoje isso equivaleria a aplicar as mesmas pensa aos delegados da Operação Lava Jato e ao Juiz Sérgio Moro...

Na mesma esteira de roubalheiras envolvendo banqueiros, o próprio presidente do Banco Central de FHC e seus diretores foram condenados a 10 anos de prisão e a pagar 5 bilhões de reais (pouco noticiado pela mídia) pelo esquema com  o banqueiro Salvatore Cacciola (http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2015/08/1664893-ex-diretores-do-bc-sao-condenados-a-pagar-quase-r-5-bilhoes.shtml), valores equivalentes ao Petrolão.

Mas a forma mais eficiente de roubo que não deixou rastros foi através do aumento da taxa real de juros (banqueiros se entupiam de títulos do tesouro atrelados à Selic) e o presidente do BC elevava-a a níveis estratosféricos. No governo Fernando Henrique foram realizadas 79 reuniões do COPOM. A taxa de juros foi de  23,28% na 1ª reunião, em 26/06/1996; máxima atingida de 45%, na 33ª reunião, em 04/03/2009, na gestão de Armínio Fraga, chegando o pagamento de juros a 13% do PIB; mínima de 15,25%, na 55ª reunião, em 14/02/2001; e fechamento do governo com taxa Selic a 25,00%, na 79ª reunião, em 18/12/2002.

Tudo indica que voltaremos a essa "política" ou esquema que financiará campanhas milionárias e seus corruptos, sem deixar rastros, sem polícia federal, sem ministério público, sem mídia...

quarta-feira, 16 de março de 2016

A CORRUPÇÃO ENQUANTO MOTOR DA ECONOMIA BRASILEIRA

A economia brasileira sempre foi baseada na corrupção. Nos seus primeiros cinco séculos na forma mais hedionda da corrupção, do crime: A escravidão. Seja no ciclo da cana de açucar, no ciclo do ouro, e no do café, esse tipo de corrupção era responsável por praticamente 100% do PIB. Quando a escravidão foi proibida em 1.889, a economia sofreu uma paralisação maior do que a atual.

O escravo foi substituído por um tipo de escravidão mais branda, inclusive, com a inclusão de imigrantes nas lavouras de café, e os fazendeiros da política café com leite era dono do  governo do poder, e viam o Estado como um patrimônio próprio e retiravam dele o que bem entendessem, já que eles o sustentavam, num sistema que ficou conhecido como Patrimonialismo .

Só em 1930, a Corrupção Agrária teve seu fim decretado por Getúlio Vargas, que inaugurou a Corrupção Industrial. Na Ditadura Vargas o motor da economia passou a ser as estatais criadas (Petrobras, Siderurgicas, etc.), e seus dirigentes sendo beneficiários de uma Ditadura violenta, tiravam o que bem entendiam dessas empresas, sem ter de prestar contas a ninguém.

Com o fim da Era Vargas, entra a era JK, que impulsiona a economia com acordos espúrios com montadoras de automóveis,  obras faraônicas como a malha rodoviária para impulsionar a venda desses carros e a construção de Brasília, que segundo os estudiosos, foi o maior esquema de corrupção da história, em valores atualizados. Tivemos então, o maior ciclo de crescimento até então.

Jânio Quadros se elege prometendo varrer a corrupção dos anos JK... Resultado? Queda do PIB, ferindo interesses dos grandes grupos econômicos, o que, de fato, levou à sua "renúncia".

Entra João Goulart, vice de Jânio prometendo reformar o Estado, mantendo a política de combate à corrupção de Jânio e propondo medidas na economia, que ficaram conhecidas como "socialistas", mas na verdade eram medidas anti-corrupção, anti o modelo de economia corrupta, como o fim das terras públicas ou devolutas ocupadas ilegalmente por fazendeiros. Mais uma vez a economia quebra, os grandes grupos diminuem seus lucros, e os militares tiram Jango do Poder.

Inicia-se então, um nome ciclo de Patrimonialismo, em que estatais eram criadas, para atender interesses da iniciativa privada. Nessa época, é que pequenas empreiteiras como Odebrecht e OAS se tornam gigantes, vampirizando os recursos do Estado, em suas obras hiperfaturadas, como a Ponte Rio Niteroi. As estatais eram dirigidas ou por militares ou por dirigentes nomeados por eles e pelos grupos privados. As capitais e estados eram governados por políticos biônicos, colocados pelos militares, como Paulo Maluf, ACM, que faziam o que queriam com os recursos públicos. Na economia, Delfim Neto, fraudava até os índices de inflação... Com esse modelo, o Brasil supera o ciclo de crescimento econômico da era JK, com o chamado Milagre Brasileiro e se torna a maior economia do mundo.

Esse modelo tem a pá de cal com o General Figueiredo, um militar sistemático, que não gostava de roubalheiras, e morreu relativamente pobre, e responsável pelo declínio na economia, ao brecar grandes negociatas.

Vem a Nova República, e o  PMDB no poder, originalmente um partido decente, atrai grande parcela dos corruptos para seus quadros, como José Sarney, que promove um governo de transição tumultuado entre o modelo de Corrupção Militar e o novo modelo da Nova República, ainda sem forma.

Para sucedê-lo, entra Fernando Collor, prometendo, em reuniões secretas, para os grandes grupos, como Rede Globo, uma Corrupção Moderna. Porém, o que ele implementa é a chamada Corrupção Narcísica, em que ele roubava somente para ele e seus homens, o que desagradou os grupos que sempre mamaram nas tetas do Estado, e que o destituíram rapidamente.

Assume Itamar Franco, que nomeia como chefe da economia Fernando Henrique Cardoso, o pai da Neo Corrupção, ou seja, o roubo dos cofres públicos para alimentar os partidos nas eleições e seus políticos. Ali nasceram os novos esquemas de compra de votos no Congresso e os primeiros mensalões em nível federal (Aprovação Reeleição, Reforma Previdência, etc) e estadual, com o governador Azeredo em Minas, que contratou Marcos Valério e seus serviços pela primeira vez. Paralelamente, estatais eram dadas à iniciativa privada, em tenebrosas transações, que ficaram conhecidas como Privataria Tucana, banqueiros recebiam 30 bilhões de dólares pelo Proer. Outras figuras como Delcídio, Cerveró, etc inauguravam novos esquemas na Petrobras, que duram até hoje...

O segundo mandato de Fernando Henrique foi mais tímido em termos de corrupção. Não haviam mais estatais para rifar, banqueiros para "socorrer" a economia caiu, gerou desemprego e o pai da Neo Corrupção sai do poder.

Entra o governo petista, saem de cena os Banqueiros, que só queriam taxas de juros altíssimas para lucrarem, o que desacelerava a economia, e voltam os Empreiteiros, mais empreendedores e que geravam mais empregos com seus esquemas, de roubar dinheiro do Estado para alavancar o crescimento de suas empresas. O esquema é um sucesso nos oito anos de governo Lula, mas se esgota no governo Dilma, que transfere trilhões para o setor industrial, através da redução de IPI e outras isenções, quebrando os cofres do Estado, sem porém obter retorno em crescimento. 

Aí em 2014 começa a Operação Lava-Jato, que paralisaria os esquemas das maiores  empreiteiras e da Petrobras, que juntos eram responsáveis por cerca de 3,5% do PIB.

CONCLUSÃO ESTARRECEDORA: Ou volta a corrupção ou país quebra, ou viraremos a Venezuela! Fora Janot! Fora PF, fora MP, FORA MORO!!!!

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

A SANTÍSSIMA TRINDADE DA CORRUPÇÃO

O primeiro sistema de administração pública implantado no Brasil foi o Patrimonialismo. O cargo  público se confundia com a pessoa que o ocupava. As capitanias eram hereditárias, o próprio regime monárquico, onde tudo pertencia ao governante máximo e a seus nobres. A tipificação penal era baseada no grau nobiliárquico da pessoa que cometeu o crime e não no crime em si. Em "quem" cometeu o crime, não em "o que" cometeu, e a pena variava em função da pessoa. Se fosse escrava, a pena era a pior, e fosse nobre, a mais branda, mesmo se tratando do mesmo crime.

Passados mais de quinhentos anos de história, infelizmente muitos resquícios dessa época estão entranhados em nossos três poderes ( malha judiciária, política e de administração pública). Na década de 60, quando se propunham mudanças e avanços, vieram 20 anos a ditadura, o que provocou um imenso retrocesso, um Neo-Patrimonialismo. Os ditadores governavam como reis, os bens do Estado, as estatais se confundiam com a pessoa de seus dirigentes, que podiam agir da forma que mais lhe aprouvessem sem prestação de contas ao povo, mas apenas a seu Rei, o Ditador. 

E assim, a corrupção não era vista como corrupção, mas como um "direito". O Rei podia distribuir as benesses e privilégios do Estado entre seus súditos. Distribuía cargos, controle de Estatais, Prefeituras, Estados, Territórios. O prefeito biônico tinha "direito" se apropriar da renda municipal com o aval do Rei e de suas Forças Armadas, sem nenhuma satisfação ao povo, ou seja, sem nenhuma transparência, e de modo autoritário... Mas se desagradasse ao Rei, a punição era branda ou de acordo com o grau de sua influência. Autoritarismo, Privilégios e ausência de Transparência, eram a santíssima trindade do Neo-Patrimonialismo...

Com o fim da Ditadura, voltou a falar-se em eleições, concursos seletivos para cargos, transparência, participação social, democracia enfim. Mas passados 30 anos os resquícios, incrivelmente, ainda estão frescos: Privilégios para os cargos de livre nomeação do "Rei", falta de transparência e autoritarismo nos atos dos "escolhidos", ou seja, os ingredientes, o motor da Corrupção que é vista como "direito".

Espanta-me a naturalidade como  os governados e subordinados, quase lacaios, vêem esse estado de coisas: Elevadores exclusivos, estacionamentos exclusivos, carros exclusivos, motoristas particulares, salas amplas, decisões autoritárias e caprichosas que afetam todos os subordinados, sem ouvi-los, enfim, tudo o que leva um dirigente a pensar que é o "dono do lugar e da situação", um Rei ou amigo dele, que pode tudo... Espanta-me o espanto de um Diretor corrupto diante da voz de prisão: "Que país é este?!" Sim, mas é natural o seu espanto, já que ele tinha esse "direito" pois fora nomeado para atuar com autoritarismo, privilégios e falta de transparência, a Santíssima Trindade da Corrupção...

Portanto, a PREVENÇÃO à corrupção do Brasil deve passar necessariamente pelo fim dos privilégios dos dirigentes públicos, por maior transparência de seus atos e rotinas, e pela diminuição de seu poder sobre os subordinados, ou seja, por uma Administração Pública verdadeiramente democrática que acabe com tudo isso que incentiva a corrupção, com tudo isso que cria as ocasiões que fazem os ladrões.